Qual é o seu cargo e o que é que faz e em que áreas trabalha concretamente?
Sou Managing Partner da Digital Connection, faço a gestão da agência com o meu sócio, o desenvolvimento de novas contas e também estratégia de marketing que é o que mais gosto, na verdade.
– Trabalhar fora de Portugal era uma ambição ou qual foi a circunstância que determinou a saída?
Ao longo do meu percurso académico e profissional fui sempre tendo experièncias fora de Portugal, como em Madrid, Londres, Croácia, e abrir uma empresa no Dubai foi o que me levou “a fazer as malas”
– O que é que fazia e onde é que trabalhava antes de ir para o Dubai?
Sou Co-founder da Digital Connection, Agência de Marketing Digital fundada em Janeiro de 2015. Desde o início da agência que o nosso objetivo foi a internacionalização, numa primeira fase angariámos clientes fora de Portugal, em países lusófonos, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, e também clientes em Espanha, Suíça e Luxemburgo. Mas a nossa ambição, minha e do meu sócio Gonçalo Freitas era levar a Digital Connection além fronteiras.
Em 2022, surgiu a oportunidade de explorar o mercado do Médio Oriente e iniciar esta nova jornada no Dubai. Mudei-me em Setembro desse ano, sem clientes, apenas com a experiência de gestor da agència no mercado português, muita motivação e garra para conquistar este mercado.
Efectivamente, deparámo-nos com um mercado competitivo mas ao menos tempo com muitas lacunas, muita falta de recursos humanos especializados na área da comunicação e marketing, e com qualidade.
Após 3 meses, que era o nosso período de teste, conseguimos angariar algumas contas tais como a Reacton e Fireward – líderes em Automatic Fire Suppresion System que têm como clientes as maiores companhias de transportes do mundo, tal como a Emirates, TCM Shanghai – uma clínica de luxo em Jumeirah, e, por exemplo, Exotica uma plataforma online de entrega de produtos. E mostrar como portugueses no estrangeiro que somos, conseguimos causar uma boa impressão. A saída de Portugal para o Dubai, teve haver com dois factores distintos, por um lado, sair da zona de conforto e penetrar numa cultura muito diferente da portuguesa / europeia e, por outro lado, agarra as oportunidades da economia emergente do médio oriente, conseguindo projectos com maior orçamento.
-Quais são as mais-valias e os obstáculos que o ser português tem no seu trabalho no Dubai?
Para ser honesto, só vejo pontos positivos em ser português, o mercado empresarial no Dubai é muito diferente do português, além de muito competitivo, a tomada de decisão está relacionada muitas vezes com as pessoas que se conhecem.
-Quais são as particularidades do Dubai, na área em que trabalha, em termos de desafios e diferenças em relação ao mercado português?
Ser português, vem dar o selo de qualidade europeu que as empresas no Dubai procuram, existe muita mão de obra pouco qualificada no Dubai. Contudo, tivemos de nos adaptar ao mercado, um dos primeiros investimentos que fizemos, foi em recursos humanos que conhecem bem a dinâmica da indústria. Contratámos uma business developer Emirati, uma project manager e um copywriter arábe, para estarmos preparados para todos os tipos de desafios.
Sendo o Dubai, um ponto de encontro de tantas culturas, é uma das cidades mais multiculturais em todo o mundo, o desafio é definir bem objetivos e targets, conhecer bem quem queremos impactar com as nossas campanhas para gerar resultados. A forma como um árabe reage é muito diferente da forma de reagir de um europeu. O que reage um árabe é muito diferente, a nível de mensagem, design, cores, do que reage um europeu. Posso dar alguns exemplos como: não devemos utilizar a cor preta, pois é associada à morte, as mensagens devem ser muito imparciais e respeitosos, sem nunca criticar ou brincar com as regras do país, náo se pode também fazer nenhuma conotação sexual. A escolha das imagens também é muito importante, se estamos a falar para a comunidade muçulmana as mulheres devem estar com os ombros e pernas tapadas, mas se estamos a falar para um target mais abrangente mesmo para uma marca no Dubai, podemos explorar imagens ocidentais. Neste sentido, o estudo do mercado e o apoio de pessoas que vivem há muito tempo cá foi a chave para nos adaptarmos.
-Qual é o momento que o mercado no Dubai atravessa em termos de consumo, comunicação e pontos de venda e de que formas isso interfere na sua área de atividade?
O Dubai, e o Médio Oriente no geral, atravessa um período de crescimento, que procura mão de obra qualificada e está disposto a pagar um preço atractivo para o conseguir, e vemos, com os eventos que vêm, como Mundial, Jogos Olímpicos, Expo, e as próprias contratações milionárias de futebol, fazem todas parte da estratégia de crescimento e promoção destes países, não só dos Emirados Árabes Unidos, mas também da Arábia Saudita e do Qatar.
Encontramos inúmeras diferenças no comportamento do consumidor dos residentes no Dubai, a estratificação social é muito cristalina, existe uma diferença enorme nestes comportamentos, tendo em conta a classe social das pessoas, contudo para o segmento médio e alto, o Dubai é uma cidade extramamente conviniente, apesar de ter os maiores centros comerciais do mundo, como o Dubai Mall e Mall of Emirates, a utilização de apps para deliver sáo espetaculares, em 15 minutos temos o que precisamos em casa pelo preço que encontramos no supermercado. Assim, por um lado, é muito importante a comunicaçáo in-store dos produtos, existe uma grande afluência nas superfícies comerciais, onde temos de utilizar a criatividade para nos destacarmos, enquanto marcas, e ainda um forte consumo a partir dos canais digitais, sejam as redes sociais, como os marketplaces – plataformas digitais como o Noon, Talabat, ou Careem. Sendo o Dubai uma cidade de expats, apenas 11% da população é Emirati, é verdadeiramente um mercado multicultural e dependendo para quem estamos a comunicar, temos de adaptar a mensagem, o visual e os canais que utilizamos. Nunca foi tão importante o estudo e definiçã dos diferentes targets que queremos impactar. A cidade promove muito a inovaçáo tecnologica, o uso de crypto moedas, os produtos tecnológicos acabam por ser sempre um bom investimento, sendo uma cidade muito dinâmica, literalmente todos os dias há eventos tanto sociais como profissionais que podemos frequentar, é outra forma que as marcas tèm de comunicar e alcançar os seus públicos, tanto através da promoção de eventos como do patrocinio.
-Qual é o projeto mais recente que tem entre mãos e do que é que se trata?
Atualmente temos imensos projectos a decorrer simultaneamento e em diferentes países, Dubai, Portugal, UK, Angola, Arábia Saudita.
Orgulho-me em termos desenvolvidos projectos super interessantes no Dubai, posso exemplificar o lançamento de uma marca de bebidas, Soom Lite, criada por um cientista que bloqueia a absorção de açúcar, diminuindo o pico glicémico tendo inumeras vantajas para a saúde e estética, uma bebida inovadora no mundo, onde desenvolvemos o projecto de A-Z, desde branding, web, social media, PR, Eventos que teve um impacto muito super positivo na comunidade. Recentemente desenvolvemos o novo website de uma marca muito conhecida, a Dubai Holding Group, desenvolvemos as campanhas de Google e Social de uma das marcas com maior notoriedade, Al Ansari Exchange, é uma das maiores empresas financeiras do Médio Oriente, muito conhecida pela conversão de dinheiro, criámos uma marca que está a revolucionar a comunidade latina, X9, um projecto que ajuda a integração de latinos no Dubai, através da criação de eventos. Entre muitos outros projectos.
-Qual foi a experiência profissional que teve no Dubai que mais o marcou, pela positiva e pela negativa, e porquê?
A experiência profissional que mais me marcou pela positiva, foi sem dúvida o lançamento do Soom Lite, foi um projecto onde a equipa trabalhou dia e noite, e o evento de lançamento teve uma projeção brutal não só no Dubai mas também no Kwait, Saudi e Abu Dhabi, recebemos feedback muito positivo e encomendas para a internacionalização da empresa.
Pela negativa, já tive algumas deceções, que estão relacionadas com a falta de compromisso, e com uma eventual percepção, por parte de potenciais clientes, de que podemos ser descartáveis. Mas nada que nos faça desistir.
-Em termos profissionais, do que é que tem mais saudades em relação ao mercado português? – Do que é que não tem saudades?
Na verdade, continuo a trabalhar com o mercado português, a Digital Connection contínua robusta em Portugal, e é onde estáo a grande maioria dos nossos recursos humanos, apesar da nossa equipa ser formada por diferentes nacionalidades, como: Colombia, Egipto, Saudi, Emiratis, Nepal, África do Sul, Brasil, nossa grande força de recursos humanos são portugeses.
Algo que não sinto saudades, são dos budgets portugueses, são cerca de 4 e 5 vezes mais baixos do que cá, o que inevitavelmente leva a dedicarmos menos tempo aos projetos em Portugal.
-Pensa regressar a Portugal? Porquê?
Nos próximos anos é algo que não está nos meus planos (porquê?). Recentemente, abrimos um escritório em Ria na Arábia Saudita Abrimos uma empresa de Eventos de Talent Management, atualmente estamos muito envolvidos em eventos de entertenimento, com shows de bailarinos, DJ’s, música ao vivo, gerimos diferentes venues no Dubai, tal como Juyi, Players, Virtue, entre outros, é uma empresa que queremos consolidar no mercado do Médio Oriente.
Vou bastantes vezes a Portugal, sinto falta da família, amigos e da comida.
João C Silva